Antes de começar a ler, avisamos: este texto pode conter SPOILERS.

É difícil escrever uma crítica imparcial de um filme do Studio Ghibli, mais difícil ainda quando o diretor é Hayao Miyazaki, mas vamos tentar. O que impressiona em Ponyo? Porque assistir? São essas as perguntas que vamos responder.

Para começar, o trabalho de Ponyo é feito todo em aquarela, a mão. Isso é impressionante nos tempos atuais, em que a computação gráfica é utilizada para tudo. Foi um filme que levou tempo para ser planejado e feito, o que mostra a seriedade do Studio Ghibli em fazer uma animação de boa qualidade. Além disso, o efeito produzido foi exatamente o desejado: as cenas em que o mar aparece, a aquarela reproduziu exatamente o movimento do mar, tornando a película inesquecível.

Falando sobre o enredo, Miyazaki traz para o filme vários assuntos, de forma sútil. Ao começo do filme, Ponyo, a peixinha dourada, se vê presa em um pote de vidro, em uma cena onde o fundo mar totalmente poluído é mostrado. Inclusive na cena, Ponyo está tentando fugir de uma rede de pesca cheia de lixo. Fica a dúvida, a pesca era para ser de peixes, ou são apenas máquinas para retirar o lixo do fundo do mar?

Sosuke é o menino que aparece para salvar Ponyo do pote de vidro no qual ela ficou presa. É um personagem muito interessante: é um bom menino, responsável, cuida de sua mãe (e o mais estranho, chama os pais pelo primeiro nome!) e muito solitário, também. Além de salvar Ponyo, ele cuida da Peixinha, levando-a para sua casa.

É então que aparece o vilão (não tão vilão assim), o pai de Ponyo, uma espécie de cientista feiticeiro do fundo do mar. Uma coisa que sempre admiro nos filmes do Studio Ghibli é essa questão do bem e do mal, que não são muito definidos. O suposto vilão sempre tem algo de bom também, uma motivação, e não há uma definição clara de bem e mal, e sim algo mais para o lado de certo e errado. Ele resgata Ponyo, como bom pai que se desespera ao ver que sua filha sumiu, e a prende para que ela não fuja mais.

Mas é justamente o contrário que acontece: Ponyo foge, consegue se transformar em uma humana e libera um grande poder que inunda toda a ilha de Sosuke, e então vai procurar pelo menino. Aqui fica mais uma pergunta: Como Sosuke reconhece que a menina que aparece em sua porta, é na verdade Ponyo? Fica a cargo da imaginação e mais uma mensagem do filme: tolerância com quem é diferente, mesmo que passada de uma forma imperceptível.

Olhando agora para os filmes anteriores de Hayao Miyazaki, vemos que Ponyo fica em um limiar entre Meu Vizinho Totoro e A Viagem de Chihiro, tendo ingredientes certo dos dois lados: uma pitada de infância que remonta a Totoro através da amizade de Sosuke e Ponyo, e o toque final com muita fantasia, como em A Viagem de Chihiro.

O filme atrai tanto adultos quanto crianças, através de cenas cativantes entre os pais de Sosuke, o menino e Ponyo, atraindo a atenção dos adultos com cenas hilárias entre os pais de Sosuke. E diferente de Chihiro e Castelo Animado, o enredo mais simples permite uma compreensão maior às crianças, que entendem a história e são envolvidas por ela.

A mãe de Ponyo. Embora não tenha falado sobre ela, ela aparece durante o filme e causa uma grande impressão! Será ela uma deusa do mar?

Então fica aqui nossa opinião: Ponyo é um filme para ser visto várias vezes, pois assim como os demais filmes do Studio Ghibli, cada vez que se assiste, nota-se um novo aspecto, descobre-se uma nova mensagem.

Ponyo estréia oficialmente nos cinemas no próximo dia 16 de Julho.


Monolice

Formada em Ciência da Computação, conheceu o estúdio através de A Viagem de Chihiro e foi onde tudo começou pra ela. Seu filme favorito é Princesa Mononoke. Sua contribuição iniciou desde a época da comunidade da Ghibli no orkut, sendo atualmente membro honorário da Ghibli Brasil.

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