A 1:30 da manhã desta sexta (horário de Brasília) se iniciou através do canal de vídeos NicoNico uma conferência que ultrapassou as 70 milhões de visitas on-line em todo o mundo. Nela estavam Toshio Suzuki, Hayao Miyazaki e o atual presidente do Studio Koji Hoshino.
Hayao Miyazaki anunciou sua aposentadoria para a sua equipe em 5 de agosto de 2013 durante uma reunião de trabalho, como relatado por Suzuki, ex-presidente e atual produtor do Studio Ghibli.
Ele disse aos repórteres: “Eu acho que as pessoas estão pensando ‘Oh, ele está dizendo que vai se aposentar de novo’, mas desta vez estou falando sério.” Miyazaki também revelou que, embora tenha apreciado o seu trabalho como animador em várias ocasiões, ele nunca foi tão feliz em ser um diretor, já que tem que fazer muitas decisões.
Toshio Suzuki também revelou na coletiva que o próximo filme do Studio Ghibli (depois de Kaguya-hime no Monogatari, de Isao Takahata) sairá no próximo verão japonês. E disse aos repórteres que ele não pode revelar quaisquer detalhes sobre o filme, mas que ainda está em fase de produção.
Embora Miyazaki dissesse aos jornalistas que vai estar descansando durante sua aposentadoria, ele insistiu que seu “descanso” não se parecerá com descanso para os outros. “Quando eu trabalho em algo que eu gosto, o trabalho torna-se descanso que eu quero. Quando eu durmo, eu não posso descansar.” Ele meditou sobre o voluntariado no Museu Ghibli, e brincou dizendo que ele próprio pode se tornar uma exposição lá. E também disse:
“Irei ao Studio [Ghibli] todos os dias. E se existir algo que desejo fazer, então irei. Eu quero trabalhar mais dez anos, mas não como um diretor de longas-metragens.”
Miyazaki falou sobre como sua visão iria piorar ao longo dos anos, e como isso dificultaria a formação de seu trabalho.
Quando perguntado sobre sua declaração formal de aposentadoria, Miyazaki respondeu: “Eu não queria fazer uma declaração, eu só disse a minha equipe. O produtor [Suzuki] observou que seria difícil caso fosse questionado a respeito, por isso decidimos por uma coletiva de imprensa. Mas o estúdio é muito pequeno, então decidimos fazê-la aqui. Mas eu não planejei ter uma conferência como esta.”
Além disso, um repórter de Hong Kong apontou a sua diminuição de peso, Miyazaki assegurou-lhe que era porque ele tinha engordado depois do casamento, e realmente tinha acabado de descer para o bom peso. “Quando eu olho para as minhas fotos naquele tempo [cinco anos atrás] agora, eu penso que parecia um porco.”
Ao perguntarem sobre outros filmes que ele desejaria fazer caso pudesse, Miyazaki respondeu que havia filmes que não foram feitos, mas havia razões para isso. No entanto, tais razões não poderiam ser discutidas em público. Quando um repórter perguntou a Miyazaki sobre se ele próprio tinha planos para uma continuação de seu filme de 1984 ‘Nausicaä do Vale do Vento’, Miyazaki simplesmente respondeu: “Não”, com um sorriso.
“Se eu tivesse que pensar no meu próximo filme, eu levaria seis ou sete anos para concluir. Eu sinto que meus dias no mundo dos longas-metragens de animação acabaram. “
“Eu serei livre. Eu gostaria de fazer outras coisas, mas não animação.”
“Não importa o quão bem você está de saúde, sua capacidade de concentração se degradada ano após ano.”
Miyazaki insistiu que a idéia para Kaze Tachinu (The Wind Rises), seu 11º e último filme, não foi inspirada pelo terremoto de 2011, já que a idéia foi concebida antes do desastre ter acontecido. Em resposta a algumas reações negativas na mídia coreana e japonesa em direção ao filme, Miyazaki disse: “É um cenário militarista, e eu acho que há muitas opiniões… No entanto, eu acho que você não vai entender o filme, a menos que você o veja. Compre uma entrada e assista. Ao invés de lançar opiniões sem fundamento.”
Outras citações de Miyazaki durante a coletiva:
“As pessoas podem se perguntar por que eu não confio em meu trabalho para outra pessoa, mas não a minha maneira de trabalhar. Eu sinto que não posso continuar.”
“Depois de Ponyo, precisei de cinco anos para fazer Kaze Tachinu. Mais um outro filme, e eu demoraria muito mais tempo por causa da minha idade. Em quatro meses eu vou ter 73 anos, o que significa que teria de cerca de 80 quando o filme fosse lançado. Seria estúpido se eu dissesse que quero continuar.”
“Como animador, você sente alegria, se você é capaz de traduzir coisas como vento e luz, mas um diretor espera o julgamento dos demais. Isso não é bom para a saúde.”
Miyazaki disse que tem esperança nos jovens promissores do Studio Ghibli, e acrescentou:
“Quando eu tinha 30 e 40 anos tinha muitos planos e ambições, para isso se depende da determinação de cada um deles.”
Veja a coletiva na íntegra com áudio em inglês: